Um
Hamlet canastrão, uma Rainha Louca, um Rei estrategista e uma Ofélia viciada em
sexo, são os principais personagens propostos pelo Jovem Escriba Patrício Jr.
para contarem a história do príncipe da Dinamarca imortalizado na obra de
Willians Shakespeare. Uma adaptação irresponsável (no bom sentido da palavra)
chegou às mãos do Grupo Facetas, Mutretas e Outras Histórias para a sua
adaptação para a Cena, com o nome de “Hamlet – Um Exercício” o grupo se
debruçou sobre a referida dramaturgia. Acostumados com a Direção Coletiva e com
os Processos Colaborativos, os Facetas se depararam com um certo conflito: desfragmentaremos o texto ao nosso modo ou
seremos textocêntricos?
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Foto: Fábio Lima |
Ponderamos
bem o pouco tempo que tínhamos para a montagem, refletimos que para adentrarmos
em um processo colaborativo de construção dramatúrgica, necessitaríamos de um
tempo bem maior e com a possível presença do autor em alguns momentos,
hajavista a vida ocupada de Patrício Jr. e o pouco tempo que tínhamos,
resolvemos ser textocêntricos! Talvez, a primeiro momento tenhamos estranhado
um pouco, mas nos adaptamos muito bem e rapidamente. Chegamos a conclusão que o
Facetas não perderia sua essência ao tomar esta atitude, a nossa estética,
também irresponsável (no bom sentido da palavra) dialogava diretamente com o
texto, e sabíamos que a mesma apareceria com muita força no trabalho.
Passada
a decisão do textocentrismo, fomos a definição da linha do trabalho. Já há um
tempo estamos buscando a investigação com o trabalho do Palhaço Popular e com
vontade levar para as ruas de nosso bairro. Então, para casarmos o nosso desejo
com a montagem do Jovens Escribas em Cena, procuramos abordar o texto com essa
estética do palhaço desbocado e descomprometido com padrões éticos, e que, no
fim das contas, acabaram se relacionando muito bem entre si.
Monique
Oliveira coordenou os trabalhos de preparação de corpo e de aproximação com o
universo do Palhaço. Definimos o espaço Cênico como um Picadeiro em forma de
Arena e construído com tatames vermelhos. Passamos por um processo de imersão
no texto, apreendendo-o e na prática de sala tentando dar a nossa dinâmica ao
mesmo. Enxertamos nossos “cacos” nos momentos em que o texto dava brecha para
tal. Suprimimos algumas ações e citações que achamos desnecessárias, e/ou que
não se encaixavam no discurso do nosso Grupo. Tentamos ser bem fiéis as
rubricas e as indicações de Cenas propostas pelo autor, e fizemos do processo
uma grande brincadeira. E este clima de festa perdurou até os momentos antes da
apresentação, onde buscamos relações com as outras encenações já apresentadas
(do Grupo Clowns de Shakespeare e da Cia Bololô), como o peito nu de Ofélia que
foi interpretada por um homem (Omar Sena) e tinha uma relação direta com a Encenação
dos Clowns e o resto do Frango Assado deixado na cozinha do Barracão Clowns
pela Bololô e que havia sido utilizado em cena no dia anterior pelo mesmo
Grupo, referências que foram para a Cena e que lembram as intervenções que os
palhaços fazem ao chegar na cidade e incorporam coisas do lugar à dramaturgia
do espetáculo. Além de Omar Sena (Ofélia), estiveram em cena Enio Cavalcante
(Rei Cláudio), Giovanna Araújo (Rainha) e este que vos escreve e que atende
pelo nome de Rodrigo Bico (Hamlet), fizemos o elenco desta encenação ácida,
burlesca e sarcástica. E que levantou em nosso Grupo o grande desejo de
reapresentá-la em outras ocasiões. Da Direção Coletiva nós não conseguimos
escapar.
Fica
aqui o agradecimento pelo convite, que reitera uma parceria já duradoura entre
Clowns e Facetas e que nos aproximou dessa nova Cia que surge com muita força e
responsabilidade que é a Bololô. E também a grande alegria de encenar um texto
deste Jovem Escriba, que nos possibilitou um grande desafio e uma importante
reflexão a cerca dessa coisa que chamamos de Processo Colaborativo.
Rodrigo
Bico
Ator
e Diretor do Grupo de Teatro Facetas, Mutretas e Outras Histórias